quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Bons Livros...... (92)


ASSASSINATO NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

JÔ SOARES......(2005)

Não bastasse ser dono de uma respeitável carreira na televisão e no teatro, Jô Soares também se consagrou no universo literário ao publicar, em 1995, O Xangô de Baker Street. Um romance policial onde o famoso detetive inglês Sherlock Holmes, a convite do imperador Dom Pedro II, vem ao Brasil com a missão de investigar o roubo de um violino Stradivarius. Três anos depois, em O Homem Que Matou Getúlio Vargas, foi a vez de um terrorista atrapalhado chegar ao Brasil, após ter perdido a chance de entrar para a história como o assassino do arquiduque Franz Ferdinand, conhecido a espiã Mata Hari e trabalhado com o gângster Al Capone. Agora, seguindo esse mesmo recurso de amarrar sua trama a fatos e personalidades históricas, Jô Soares lança Assassinatos na Academia Brasileira de Letras.

Mas a fórmula parece dar sinais de cansaço. Se não em termos de vendagens, já que Assassinatos na Academia Brasileira de Letras vem permanecendo durante semanas na lista dos mais vendidos; pelo menos na questão criativa. A história toda se desenrola de maneira tão mecânica, metódica e linear, que chega a ser previsível. Falta paixão. É como se Jô Soares tivesse descoberto a fórmula de sucesso e não precisasse mais criar. Apenas aplica a estrutura: humor, mistério, curiosidades históricas; e em cima dela, insere o cenário, a época e os personagens. Aquilo que um dia já foi visto como diferente – a mistura entre ficção e fatos históricos, o uso de imagens e textos de jornal – hoje não impressiona mais, ficou desgastado.

O cenário desta vez é o Rio de Janeiro de 1924, ano em que a então capital do país se encontrava sob estado de sítio e a sociedade carioca vivia a expectativa da construção do Cristo Redentor no Corcovado. O narrador onipresente tem um quê de guia turístico, fala de curiosidades como a origem do termo jornalismo amarelo, dá um breve histórico dos venenos e conta alguns percalços na inauguração do Copacabana Palace.

A história começa quando o imortal Belizário Bezerra, autor do livro Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, morre durante seu discurso de posse na Casa de Machado de Assis. No dia seguinte, o jornal O Paiz informa que, apesar do título sugestivo do livro de Bezerra, onde os imortais iam sendo assassinados um a um, a explicação encontrada para a sua morte foi um ataque cardíaco, causado pelo nervosismo da cerimônia. Mas quando o também imortal Aloysio Varejeira morre enquanto se preparava para discursar no enterro do colega, o comissário de polícia Machado Machado acha coincidência demais. Através da autópsia, ficam comprovados os assassinatos, ambos por envenenamento.

Criado o mistério, a leitura segue fácil. Assassinatos na Academia Brasileira de Letras é daqueles livros para serem lidos de um fôlego só. A curiosidade para entender as pistas, descobrir quem é o assassino e quais foram as suas motivações, funciona. Servem como cenouras penduradas em frente ao cavalo, estimulando-o a seguir em frente, nutrindo a ânsia dos leitores em encaixar as peças do quebra-cabeça. Mas quando chegamos ao fim, percebemos que tudo foi apenas um bom passatempo, sua vida em nada mudou e você continua o mesmo.

Por: Thiago Corrêa

PS:O ano é 1924 e a cidade é o Rio de Janeiro. O cassino do Copacabana Palace foi inaugurado e o glamour e sofisticação já estavam presentes em Ipanema desde então. Era pelo centro da cidade maravilhosa que circulava a alta sociedade e os grandes intelectuais em atividade em nosso país. Mal sabem estes pensadores que um serial killer está à solta, exterminando somente um tipo de vítima: os membros da prestigiada Academia Brasileira de Letras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário